quinta-feira, 19 de junho de 2025

Adaptação dos seres vivos marinhos às altas pressões da profundidade oceânica

No oceano, a 300 metros de profundidade, a pressão é mais de trinta vezes superior à da superfície, uns assustadores 31 kg/cm2. Mas, a profundidade média do oceano ronda os 3500 metros. Uma chumbada caindo para a profundidade levaria talvez duas horas no movimento de descida dessa distância. Noutras zonas desceria muito mais: na fossa das Marianas, no Pacífico, a mesma chumbada pousaria a 10 920 metros abaixo da superfície. Aí, a pressão atinge valores mil vezes superiores à pressão atmosférica.

Porque é que o corpo dos animais que habitam nas profundezas marinhas, alguns deles moles, flácidos ou gelatinosos, não colapsa sujeito às pressões colossais desses habitats? É o caso invulgar do «peixe-diabo-negro», que se apresenta praticamente sem escamas e é bastante gelatinoso (ver figura).

Na realidade, animais grandes e pequenos movimentam-se entre zonas verticais muito diferentes – a maior migração do mundo ascende, todas as noites, do oceano profundo até à superfície -, sujeitando os seus corpos a enormes variações de pressão. A baleia-azul, por exemplo, mergulha até profundidades com pressões tão elevadas, que os seus pulmões, temporariamente, colapsam. Adaptações extraordinárias permitem a esses animais viver sem qualquer dano. As explicações para tal podem não parecer intuitivas. Os motivos residem na constituição particular dos tecidos vivos e nas características e propriedades da matéria.

As moléculas de água constituintes do corpo dos seres marinhos têm a mesma compressibilidade da água oceânica, o que permite as suas funções biológicas. Os animais marinhos não apresentam cavidades de ar (pulmões, bexiga natatória…) susceptíveis de colapsar. Os corpos com tecidos moles ou gelatinosos têm densidades próximas da da água e as pressões internas e externas são igualizadas, permitindo a fisiologia. E certas substâncias ajudam a estabilizar a estrutura das proteínas, as quais desempenham as suas funções metabólicas, pelo que a vida é perfeitamente possível e adaptável, em toda a coluna de água oceânica.

Dados essencialmente colhidos em: «Oceano, o último reduto selvagem», David Attenborough e Collin Butfield. Ed. Temas e Debates. 2025.

José Batista d’Ascenção

Sem comentários :

Enviar um comentário