quinta-feira, 16 de novembro de 2017

As alterações climáticas, os incêndios e a necessidade estrita de reflorestar o país

Estamos a cerca de um mês e uma semana do Natal. A macieira do meu quintal (foto ao lado), que em anos anteriores há muito devia ter deixado cair as folhas, está ainda frondosa como se fora Verão, após a colheita das maçãs. Está enganada com o tempo, esta macieira. E não é a única planta nestas condições, nesta altura do ano, longe disso.
A causa de tais factos está na luminosidade deste Outono, nas temperaturas médias demasiado altas para a época e, também, na falta de chuva. Há algumas décadas, o tempo estava por agora cinzento, molhado e frio, dando razão aos que não gostam do Outono nem do Inverno. Mas estes rigores do tempo são necessários à repetição dos ciclos de vida e ao funcionamento geral da Mãe Natureza, traduzidos, por exemplo, na recarga abundante dos aquíferos, por acção da chuva. E, se repararmos, os dias curtos, escuros e gelados das estações chuvosas, se bem que algo depressivos, tinham o condão de nos fazer apreciar sobremaneira a chegada luminosa, florida e cheia de vida da Primavera e o prazer de desfrutar dos dias longos de Verão, pelo menos para quem tinha a possibilidade de gozar algum período de férias.
O tempo está alterado. Alguns indicadores da ciência parecem mostrar que o Homo (pouco...) sapiens [designação científica da espécie humana, em latim, significando o homem que sabe] tem responsabilidades no que se passa em matéria de alteração do clima e são manifestos e indiscutíveis os efeitos negativos da poluição que nós, os seres humanos, provocamos no planeta, uma espécie de «gaiola» de onde não poderemos fugir, caso o tornemos globalmente inabitável, como já fizemos e continuamos a fazer em muitos lugares da superfície do globo…
Com as temperaturas médias demasiado altas – e cuja tendência é para subirem! - e com estios muito secos, aumentam enormemente as possibilidades de incêndios, causadores de prejuízos incalculáveis, quer no plano económico (casas, animais domésticos e culturas agro-florestais, por exemplo), quer em termos ambientais e ecológicos (destruição do coberto arbóreo, perda de espécies animais, poluição das águas circulantes, etc.) e - pior do que isso - é mais provável a perda de vidas humanas em números alarmantes.
Que podemos/devemos nós fazer? – Muito, com certeza. Por esta altura, depois do socorro às vítimas dos fogos, já devíamos estar a pensar e a executar as acções preventivas possíveis, como limpar os matos nas envolvências das habitações e das povoações do interior do país e em faixas de largura adequada contíguas às bermas das estradas. Uma acção fundamental que devemos às gerações dos nossos filhos e netos é a da reflorestação das superfícies ardidas com espécies autóctones mais resistentes e resilientes aos fogos e, além disso, muito mais bonitas na paisagem, se bem que com produtividades económicas (que não as ecológicas) demoradas, mas compensadoras no tempo futuro. E tal acção não pode traduzir-se em actos pontuais e simbólicos ou diletantes, a que somos atreitos, tem antes que ser efectiva, alargada à maior superfície possível, e continuada e repetida até fazermos do nosso país uma mancha florestal tão bela como era a Mata da Margaraça, na serra do Açor (agora ardida...), nas proximidades de Arganil, e como o são alguns trechos de vegetação na serra do Gerês, entre outros exemplos.
Aliás, se considerarmos o que se gasta inutilmente no combate (ineficaz) aos grandes incêndios, em cada Verão, a opção por florestar com racionalidade, rigor, paciência e persistência, é seguramente, muito compensadora a médio e longo prazo, isto sem referir bens maiores como evitar a dor de perdas humanas e o pânico e o horror em horas de aflição, assim como a desolação da paisagem e a perda de biodiversidade.
E seria irresponsável e criminoso não pôr em prática uma tal opção o mais rapidamente possível. É (o) tempo.
À atenção de cada um de nós, cidadãos, das autarquias e do governo, por esta ordem, ou seja: os cidadãos têm que envolver-se e exigir dos seus eleitos que assim seja, começando pelos mais próximos até todos os outros, em patamares políticos superiores, sob pena de não lhes confiarem o seu voto…
Parece-me que só assim podemos passar a ter uma «protecção civil» digna do nome… fazendo parte e beneficiando merecidamente dela.

José Batista d’Ascenção

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