terça-feira, 2 de outubro de 2018

O ruído oco e fugaz das redes sociais

Fonte da imagem: aqui.
O ser humano é-o em comunidade. Cada um de nós, sozinho, «não existe». Precisamos do contacto de uns com os outros, desde a comunicação afectiva com os entes próximos, feita de atitudes, gestos e palavras, em linguagem do coração, até à relação social mais distante, passando pelo convívio com aqueles com quem lidamos habitualmente ou que encontramos casualmente, e que inclui a intimidade mais intensa e duradoira e aquela que é meramente fortuita. Estas relações englobam a base biológica e instintiva do mundo animal imprescindível à sobrevivência da espécie (sendo que até as plantas têm a sua «sociologia»), as características psico-fisiológicas comuns ao género humano e ainda o que é tipicamente educativo e cultural (e que distingue as pessoas enquanto membros das sociedades - cada vez mais uniformes e globalizadas - em que se inserem). Dependemos portanto dos nossos semelhantes, desde o mais profundo da biologia (reprodução, crescimento, desenvolvimento…), às regras comportamentais, ao conhecimento, à profissão, etc., quaisquer que sejam.
Acontece que nas sociedades ditas desenvolvidas da era digital, os seres humanos passaram a viver permanentemente ligados a dispositivos informáticos de comunicação (na sua dependência, afinal…), para trabalharem ou para estarem em contacto com o mundo ou para se entreterem, «matando» a solidão. É comum as pessoas sentirem-se fortemente atraídas pela interactividade digital com outras, conhecendo-as ou não, e são muitos os que «imergem» num estimulante mar de fugacidade e irrelevância, quantas vezes ficando tão hipnotizados pelas potencialidades da comunicação, e tão ausentes da relação presencial com outros, mesmo com os que, não raro, estão ao seu lado (à mesa, em festas, nos transportes, etc.) que não trocam com estes opiniões, ideias ou afectos. É a solidão iludida e crescente de tantos de nós que almejam por um «gosto» ou um «adoro» tecnológico que lhes afague momentaneamente a autoestima.
Mas as redes sociais não são necessariamente más, antes pelo contrário. Depende do que fazemos nelas ou com elas. Quando abri conta no «facebook» fi-lo por querer ler tudo o que o Professor Galopim de Carvalho ali vai (generosamente) dando ao público. E leio-o sempre com enorme prazer e proveito. Claro que, de caminho, encontrei muitas pessoas que publicam conteúdos com interesse, do humor à poesia, da informação à reflexão. Mas não me iludo: é (ou pode ser) contraproducente expor a privacidade e a intimidade aos olhos de terceiros, na maioria provavelmente desconhecidos, e nada dispensa as amizades concretas, não virtuais, o convívio pessoal presencial e os abraços reais partilhados com os verdadeiros amigos que, normalmente, não são em grande número.
Para além de acentuar o isolamento de alguns dos «dependentes» ou potenciar os maus instintos de outros ou a circulação de notícias falsas, as administrações das redes sociais recolhem dos utilizadores um extraordinário volume de diversificada informação pessoal, que podem utilizar ou ceder (às vezes não conseguindo prevenir a intrusão por pirataria informática) a organizações comerciais, económicas, políticas ou… simplesmente criminosas, aumentando-lhes exponencialmente o poder de nos condicionarem ou manipularem nas nossas opções e nos nossos consumos, sem que nos apercebamos disso.
Estes e outros problemas agravam-se a cada dia, o que dificulta a obtenção de soluções, as quais não podem deixar de passar pela preparação de crianças, jovens e cidadãos adultos.

José Batista d’Ascenção

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