domingo, 16 de dezembro de 2018

Relógio biológico

Esta tarde observei o fenómeno curioso que a foto documenta e que não é incomum nos arruamentos arborizados das cidades no fim do Outono: Junto dos candeeiros de iluminação, as árvores mantêm as folhas verdes em contraponto com os ramos dessas árvores mais distantes da fonte de luz e com todos os ramos das restantes árvores que estão ainda mais afastadas.
O que acontece é que, por estes dias, o pôr-do-sol ocorre por volta das dezassete horas, altura a partir da qual a luz solar se vai extinguindo durante o crepúsculo.
No Outono, em resposta à diminuição progressiva da intensidade luminosa e da duração dos dias (fotoperíodo), as clorofilas (os pigmentos verdes) das plantas de folha caduca deixam de ser produzidas e destroem-se. Dá-se também a morte das células do pecíolo das folhas que as ligam aos caules e estas caem (abscisão). Daí os tapetes de folhagem que, em meio urbano, é preciso remover dos passeios e das faixas de rodagem nos locais onde temos a sorte de ter árvores que não foram dramaticamente podadas. Estes são fenómenos básicos normais que precedem a dormência de certas plantas durante os tempos mais frios e escuros do início e do meio do Inverno.
Mas a média das temperaturas do Outono tem sido relativamente suave e nas cidades esse efeito pode ser ainda mais notório, dadas as diversas fontes de calor artificial: maquinarias domésticas, comerciais e industriais, motores de combustão, etc. (as cidades tornaram-se «ilhas de calor»). Então, junto dos candeeiros, que se acendem antes do lusco-fusco, e que se mantêm iluminados pela noite fora, há um estímulo que engana as árvores, fazendo-as manter alguma folhagem durante mais tempo.
E por isso, temos plantas de folha caduca que, por alturas do Natal, ainda apresentam porções de ramaria verde. Não é normal, mas é explicável.

José Batista d’Ascenção

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