terça-feira, 23 de abril de 2019

Uns dias nas Galápagos (II) – a tonalidade do solo, a falta de água (doce) e a diversidade da paisagem.

Iguana sobre a lava da praia
De origem vulcânica, em consequência da actividade de um «ponto quente» (zona de ascensão de material fundido proveniente do interior profundo da Terra) sob a placa tectónica (porção da camada rígida exterior do planeta - a litosfera -, comparável, grosso modo, à casca de uma laranja) em deslocamento para oriente, as ilhas Galápagos são tanto mais recentes, geologicamente, quanto mais ocidentais, porque situadas mais próximo ou «em cima» do «ponto quente», que alimenta os vulcões e justifica o vulcanismo activo na actualidade, como acontece na ilha Fernandina.
O chão das ilhas é, portanto, basáltico, seja o solo propriamente dito, sejam as rochas lávicas que lhe dão origem. E a sua cor é escura, preta ou com tons avermelhados devido à oxidação do ferro contido em certos minerais (o ferro é um elemento químico que se combina facilmente com o oxigénio, tomando a cor da ferrugem).
Não obstante a natureza basáltica de todas as ilhas, onde se encontram as mais diversas formas de lavas que conhecemos dos manuais, assim como túneis de lava, as praias que visitámos são de areia branca, muito fina, por vezes extensas, distinguindo-se, nalgumas delas, porções de conchas e de restos de corais que se vão fragmentando por atrito e choque continuado, umas contra as outras, no fluxo e refluxo das marés.
À saída de um túnel de lava
Os animais autóctones que vivem e se deslocam sobre o solo/rochas tendem a ser escuros, confundindo-se com a cor do substrato, por razões de camuflagem. Nas praias de lava basáltica é comum olharmos e vermos apenas as rochas num primeiro relance para, um minuto depois, as distinguirmos abundantemente povoadas por iguanas que se esparramam ao sol, como se estivessem mortas. O mesmo acontece com miríades de caranguejos negros, entre os quais surgem alguns de cores vivas: vermelho, amarelo e azul. Entre os pássaros pequenos que se deslocam sobre o solo, há-os igualmente pretos, tonalidade que abarca as penas, as patas, o bico e os olhos. Escura é ainda a cor das tartarugas e os leões marinhos, quando molhados, são negros (tom que passa a castanho quando o pêlo seca).
Tartaruga gigante das Galápagos
Tratando-se de ilhas equatoriais em que as altas temperaturas fazem evaporar a água das chuvas, as reservas de água doce são escassas. Por outro lado, onde há água doce subterrânea, os aquíferos estão contaminados, motivo por que a água das torneiras não é potável. O viajante deve beber sempre água engarrafada e lavar os dentes com essa água. Nas ilhas povoadas há distribuição de uns barris plásticos de 15-20 litros e recolha dos vazios para utilizações sucessivas. Nos hotéis e restaurantes é suposto usar-se essa água para beber e cozinhar. A natureza dos solos, a temperatura e a humidade determinam o tipo de vegetação, a qual condiciona a vida animal. Nas Galápagos, aqueles factores, muito influenciados pela altitude, originam desde paisagens áridas, com plantas adaptadas à secura, entre as quais se contam os típicos cactos do género Opuntia e os endémicos «cactos candelabro», à floresta tropical, verdejante e frondosa, com árvores cheias de líquenes, assim como culturas de exuberantes bananeiras (que dão bananas de vários tipos, de tamanho grande, e tom que pode ser o comum ou de tipo avermelhado). Esta diversidade de paisagens pode ocorrer na mesma ilha, como é caso de Santa Cruz.

José Batista d’Ascenção

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