quinta-feira, 25 de abril de 2019

Uns dias nas Galápagos (III) – apontamentos sobre a fauna

Os animais mais icónicos das ilhas Galápagos são, talvez, as tartarugas gigantes, as iguanas e os leões-marinhos. Mas, a diversidade animal é muito rica, incluindo as formas terrestres, as marinhas e as que ocupam ambos os meios. Felizmente, os habitantes das ilhas, que não só os que estão ligados às organizações e instituições ambientais, parecem ter uma consciência muito aguda do valor do património que lhes pertence, a eles como à humanidade inteira. E isso é muito encorajador.
As aves terrestres incluem passeriformes variados de pequeno tamanho, pretos, pardos, esverdeados e amarelos até outros de dimensão maior, pedreses, como os tordos, ou do tamanho e da cor dos melros, embora com rectrizes muito mais longas. Estes pássaros, frequentemente, deixam que os humanos se aproximem deles até à distância de escassos palmos, de maneira que, alguém muito hábil e ágil, talvez os pudesse apanhar à mão. Num percurso de táxi, pelas sete da manhã, no sentido sul-norte, na ilha de Santa Cruz, era preciso guinar a direcção frequentemente e buzinar constantemente para evitar uma mortandade e, mesmo assim, à velocidade de 60 Km/hora, alguns embateram contra o para-brisas. Nas zonas verdes de S. Cristóvão e Isabela, as pequenas aves comportavam-se da mesma forma.
Nas florestas, mais verdes ou mais áridas, encontram-se frequentemente tartarugas gigantes, a maioria das quais é libertada de centros de criação onde se reproduzem abundantemente. Na Natureza, estes animais também acasalam (entre Março e Junho), em acto custoso e de consumação demorada, mas eficaz (pudemos presenciá-lo, e houve quem, da nossa pequena comitiva, tivesse paciência para o filmar, até ao fim), mas a sobrevivência é muito difícil, porque os ovos, nos ninhos, enterrados no chão (com posturas entre 6 e 14 ovos, em muitos casos), são comidos por formigas, ratos e javalis. Estes animais foram introduzidos pelo Homem, assim como gatos, cães, cabras, burros e vacas, e muitos deles tornaram-se selvagens. Os cães trincam os juvenis quando as suas carapaças são ainda tenras. Cabras, burros e vacas pisam os ninhos, destruindo os ovos, e competem com as tartarugas adultas pelo alimento (ervas, porções de vegetação e mesmo os cactos). Os burros, por exemplo, evoluíram no sentido de rasparem pacientemente os espinhos das «Opuntias» com os cascos para comerem as partes carnudas dos caules.
As iguanas, muito abundantes, nas diversas ilhas, são indiferentes à presença humana (ninguém as maltrata) e são muito protegidas: sinalização nas estradas e outros locais apela à atenção ao atravessamento destes seres (é-lhes dada «prioridade»…) e obriga à circulação pedonal por trilhos específicos a fim de evitar pisar os ovos em «zonas de nidação». Como, depois de saírem do mar, ficam dormentes ao sol durante horas, não só sobre as rochas como sobre a areia das praias, nos passadiços, nos passeios ou em outras áreas, todos têm cuidado em não as pisar nem perturbar.
Os leões-marinhos são outras criaturas típicas das ilhas Galápagos. Deitam-se sobre as rochas, na areia, nas plataformas dos ancoradouros, em bancos de madeira, sempre que os haja, onde passam horas depois de regressarem do mar. Então, as crias fazem um ruído considerável a comunicarem com as progenitoras, solicitando amamentação, durante a qual sugam avida e ruidosamente o leite, em tempos que podem prolongar-se por mais de três quartos de hora. Adultos e juvenis não se afastam nem receiam as pessoas.
Nos lagos salgados, flamingos e patos deixam-se observar e fotografar de perto. Nas praias, garças-reais podem ser fotografadas a um metro de distância, já as garças-brancas não permitem tão grande aproximação. Pelicanos podem ser observados de perto, poisados, em voo ou a pescar. A diversidade de aves nas zonas de praia é extraordinária, apresentando características curiosas como a cor azul ou vermelha das patas (patola de pés azuis e patola de pés vermelhos, respectivamente), a morfologia do corpo e as cores, caso da fragata e outras. Nas orlas costeiras e praias, nadando com máscara e tubo de respiração («snorkeling»), é fácil ver de perto grande variedade de peixes, incluindo tubarões, leões-marinhos e iguanas. Um fenómeno curioso, a destoar do habitual, passa-se com alguns peixes (escuros, com 8-10 cm) que podem dirigir-se para os nadadores, picando-os (nada de doloroso), como que a enxotá-los de um meio que parecem defender como seu.
Do ancoradouro dos barcos, facilmente se vêem tartarugas marinhas, raias, tubarões e leões-marinhos. Um espectáculo digno de ser visto é o mercado em Puerto Ayora (Santa Cruz) à chegada do peixe fresco, que os vendedores amanham perante os interessados humanos e os atentos e disciplinados e próximos leões-marinhos, pelicanos e outras aves. Os restos e uma ou outra porção são atirados habilmente e estes animais apanham-nos sem que caiam no chão ou na água, assim se fazendo, eficientissimamente e com graça, a sua remoção e reciclagem e a higiene dos espaços. Não há putrefação nem maus cheiros e tudo é naturalmente sustentável. Parecem sabê-lo intrinsecamente todos aqueles seres viventes: aves e mamíferos, pessoas incluídas. 

José Batista d’Ascenção

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