terça-feira, 6 de agosto de 2019

A «gestão» da floresta em Portugal, negócios lucrativos à parte: deixar crescer, deixar arder, deixar morrer.

Uma vez, no rio Vez, um eucalipto cresceu, cresceu...
Principalmente a norte do Tejo, plantações monoespecíficas de eucaliptos (floresta é outra coisa…) alastram, quer pela superfície dos terrenos incultos, até às habitações, quer nas florestas de montanha, permeando e fazendo encolher a que antes fora a maior mancha contínua de pinhal bravo (espécie Pinus pinaster) da Europa. Felizmente, temos (ainda) alguns trechos de matas naturais com o estatuto de áreas protegidas, mas carecidas (tanto quanto merecedoras) de atenção e cuidado. Nas zonas despovoadas do interior vinga um triste desordenamento, resultado nem sequer de desleixo, mas de completo abandono.
Sem mão humana que faça alguma gestão, as ervas e o mato crescem, invasoras como as acácias proliferam sem controlo, as árvores ficam «imersas» em vegetação parcialmente seca e a biomassa vegetal vai-se acumulando até ao deflagrar de qualquer chispa de lume (acidental ou criminosa). Para os poucos habitantes que ainda restam nessas áreas, quase sempre frágeis na sua velhice e doenças, assim como para a vida animal, é o inferno real, muito capaz de lhes ceifar a vida, em qualquer dia aziago. Com sorte escapam à morte: os humanos despojados dos magros recursos e víveres que não desistiram de arrancar à terra que os viu nascer e a que pertencem, e os bichos desidratados e extenuados, enfrentando a seguir, uns e outros, as mais severas dificuldades - a continuação do inferno.
E ultrapassou largamente os vetustos carvalhos...
As tecnologias possibilitam feitos extraordinários, mas os espaços florestais e rurais, para serem úteis aos humanos, carecem tanto de instrumentos e de técnicas como da firme vontade das pessoas em compreender e respeitar a Natureza e, dentro dela, as florestas. Estes factores não se cumprem em Portugal: as ferramentas são caras, consomem muito em combustível e manutenção, o que é terrível quando se é pobre, e operam dificilmente nas vertentes inclinadas do interior centro e norte do país; e aos portugueses falta-lhes (penso eu) aquele amor pelas árvores que se torna mais profundo e mais sólido quando conhecemos os benefícios imprescindíveis que as plantas nos proporcionam, para além da exploração utilitária e económica, e de que somos inteiramente dependentes: consumo de dióxido de carbono (CO2), libertação de oxigénio (O2), moderação do clima, embelezamento da paisagem, base das cadeias alimentares e condição da biodiversidade, etc.
É tudo isto que queimamos Verão após Verão, que é uma forma de queimarmos o futuro. O nosso. O dos nossos filhos. O do nosso país.
Mas nunca o do planeta, ainda que absurdamente o quiséssemos. Nem o da Vida na Terra, que sempre encontrará formas de continuar (a evoluir), com ou sem a presença da espécie humana.
Os nossos netos mereciam melhor.

José Batista d’Ascenção

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