domingo, 11 de julho de 2021

Educar com e para o espalhafato

 

Após o término das aulas dei comigo a assistir a alguns (poucos) desafios de futebol na TV e a gastar tempo com um ou outro programa de entretenimento televisivo (até ao ponto do suportável, normalmente curto). Nos encontros de futebol optei por desligar o som a maior parte do tempo. Se a minha opinião contasse informaria os comentadores de que não é preciso gritar o que estamos a ver e que se dispensam empolgamentos artificiais com aspectos comuns dos jogos. Há dias demorei-me, de pé frente ao “écran”, num programa de Filomena Cautela, a apreciar os seus conhecimentos sobre questões ambientais e a justa pertinência do tema. E gostei. Já o mesmo não digo da piadola forçada, das inflexões histriónicas da voz, de certos esgares e do estímulo ao “barulho”, que impediram que, não obstante a simpatia pela apresentadora, me sentasse e assistisse até ao fim. Noutros programas (excessivamente) longos, de manhãs ou tardes, fiquei igualmente com uma boa imagem da preparação e da sensibilidade das/dos profissionais que os conduzem.

O que também gosto de ver, por vezes nos intervalos de umas sonecas, é a “Volta à França em Bicicleta”. Não pelos ciclistas, que pouco me interessam: não faz sentido, para mim, vitoriar alguém que, ao fim de 200 km ou mais, ganha por «meia-roda» a um cacho de corredores que chegaram com o mesmo tempo. São todos excepcionais. Mas rendo-me ao cartaz publicitário daquelas belas imagens e à grandeza da realização que no-las mostra. Também aprecio imenso a locução de Marco Chagas, porque muito conhecedor e actualizado na matéria, e não extemporânea ou excessivamente palavroso. Muitos poderiam aprender com ele.

De resto, em todo o espaço público: na política, no desporto, nos espectáculos, nas manifestações e nos acontecimentos (ditos) culturais, e até na vulgar convivência, exagera-se, a meu ver (e sentir), na tendência para o protagonismo egocêntrico ruidoso, como se fora qualidade e não defeito.

Ora, a Escola não é imune ao “ar do tempo”. E parece-me que resiste mal ou nem resiste à “contaminação”, que adopta e frequentemente pratica com diligência. Não com a minha colaboração. Sem abdicar do humor, da graça oportuna e da ironia não destrutiva, da minha parte ou dos meus alunos, que são o “sal” da pedagogia. E apraz-me ver que são muitos os miúdos receptivos à contenção e sensíveis à conveniência da moderação e da humildade.

Porque a juventude não está perdida, (mais) perdidos (e absurdos) me parecem os da minha geração.

José Batista d’Ascenção

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