quinta-feira, 7 de março de 2024

Jornalismo e política

Temos jornalistas muito bons. Precisamos, contudo, de ter muitos mais. Deixo de lado insuficiências no léxico e na gramática, que são cada vez mais (notórias) e condicionam (muito) a função. Nesse campo, a escola (e o estado a que chegou) tem importância (e responsabilidade) não despicienda, uma espécie de “pecado original” de base. Mas isto dava um tratado.

Há, depois, as condicionantes e a complexidade dos tempos que correm. Os instrumentos técnicos e as redes sociais espalham repentina e alargadamente avalanches de conteúdos verdadeiros e falsos com a mesma credibilidade. Não se compram jornais nem se pagam notícias, pelo que a capacidade financeira depende da publicidade, motivo por que convém dar às pessoas o que elas querem ver e ouvir. É mau caminho.

Mas há também o rebaixamento dos jornalistas com carteira profissional que, em vez de interrogarem os políticos, por exemplo, e de os confrontarem com factos relevantes, lhes dão o tempo e a palavra em que veiculam o que lhes convém para se manterem na retina dos espectadores e prepararem o “terreno” para os interesses que perseguem ou defendem, seus ou dos seus correligionários. Há aqui uma espécie de denegação da função.

Noutros casos, os jornalistas focam-se nas suas opiniões, crenças ou desejos, o que é legítimo em colunas editoriais ou de análise, se não deturpam os factos subjacentes. Porém, tratando-se de notícias, estas deviam sê-lo de forma objectiva, clara e fundamentada, deixando para o leitor/ouvinte/espectador a extracção de interpretações e conclusões.

Degradantes, a meu ver, são as chusmas de “repórteres” que perseguem pessoas caídas em desgraça, bombardeando-as com as perguntas mais idiotas ou mesmo ofensivas. As escolas de jornalismo deviam cuidar seriamente da matéria…

Não sei ainda se haverá antídoto para os que se esfalfam à cata de crimes de faca e alguidar, em que se demoram eternidades, até à saturação que faz passar para horrores do mesmo jaez, com iguais objectivos.

Não são problemas fáceis de resolver, mas convém tentar.

José Batista d’Ascenção

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