Algumas substâncias produzidas por seres vivos são eficazes em doses ínfimas. O nariz de um cão consegue detectar apenas algumas dezenas de moléculas individuais. As antenas das borboletas detectam algumas moléculas de feromonas (mais frequentemente) libertadas pelas fêmeas, o que permite aos machos localizá-las movimentando-se no sentido crescente do gradiente de concentração dessas moléculas. Em várias espécies de algas o multifideno serve de atractor sexual. Em Cutleria multifida os gâmetas masculinos podem nadar vinte horas até ao gâmeta feminino que emite aquele químico, bastando 1 a 10 moléculas individuais da feromona para desencadear o estímulo! Também muitas bactérias flageladas nadam para “subirem” ou “descerem” no gradiente de concentração das substâncias que as atraem ou repelem, respectivamente.
A molécula de maltol dá o aroma característico ao malte, ao caramelo e ao café. Toranjas, peras ou pepinos devem os respectivos aromas a substâncias químicas específicas.
A identificação e a síntese de moléculas activas pode ter grande repercussão. O odor a baunilha provém de uma substância química chamada vanilina. A sua síntese, em 1876, arruinou as culturas da ilha de Reunião.
O odor a terra molhada provém da geosmina, a qual é detectável em solução aquosa pelo nariz humano em concentrações de 21 em cada mil milhões de partes.
Nos humanos, desde sempre, o nariz serviu de detector hipersensível para imensas substâncias voláteis. Hoje também. A finura do odor dá o seu valor tanto à trufa como à quintessência. Pense-se no caso de enólogos e perfumistas, por exemplo.
Também ninguém menospreza a importância que os odores tiveram e têm na detecção da toxicidade.
Por estas e por outras deu-me para “meter o nariz” nestas matérias.
José Batista d’Ascenção
(*) Texto baseado na releitura do livro «A palavra das coisas» de Pierre Laszlo. Gradiva. 1ª edição, Lisboa, I995. (p. 155-157 e 228-230)
Sem comentários :
Enviar um comentário