Afaste-se a gente, mesmo que por poucos dias, do nosso rectângulo, e dificilmente passa um que não vá saber das notícias pátrias: más, quase sempre: seja a política, seja a economia e, em Agosto, os incêndios. Uma ou outra vez, o desporto mitiga, mas nada que aligeire o desencanto comum. A “época dos fogos” é uma dor de alma, um castigo violento e repetido, cuja experiência não nos ensina nada. Sofremos o indizível, queixamo-nos da sorte, invocamos a Providência, mas não fazemos nada para mudar o que, pela nossa inacção, se torna inexorável. Somos avessos ao esforço prévio, racional, rigoroso e paulatino, na construção do futuro.
Se as temperaturas são altas e a humidade é baixa, semanas sucessivas, e se a floresta (que, entre nós é essencialmente constituída por monocultura extensiva de eucalipto, como, em tempos, já o foi de pinheiro, conquanto nessa altura se cuidasse dos pinhais) não está ordenada nem é limpa e, além do mais, sendo o eucalipto e o pinheiro altamente combustíveis, torna-se uma espécie de “paiol” pronto a deflagrar em cada Estio. Criminosos piromaníacos e madeireiros oportunistas também os há, mas os verdadeiros criminosos somos nós mesmos, os cidadãos portugueses que não praticam e exigem a limpeza, a gestão e conservação das florestas. A nossa exigência devia alargar-se à não (re)eleição de políticos incompetentes e irresponsáveis, que vão destruindo o (nosso) presente e hipotecando o futuro das nossas crianças.
As políticas em Portugal deviam passar por cortar o mato, pelo menos em certas zonas, desbastar as árvores em crescimento e remover os detritos que, no mínimo, serviriam como adubo vegetal e lenha ou equivalente para aquecimento no Inverno. Este tipo de prevenção talvez ficasse mais barato do que o que se gasta anualmente (e em anos repetidos…) no combate aos incêndios, em aviões, por exemplo, além de poder criar algum emprego.
Certo que em zonas do interior, despovoadas e envelhecidas, o mato cresce, cresce e envolve perigosamente estradas e habitações. Mas não poderiam os senhores autarcas investir, praticar e exigir mais em limpeza das florestas do que em multiplicar rotundas? O facto de o país carecer, nessas zonas, de braços jovens e adultos capazes de trabalhar, revela também o carácter errado de políticas sociais que encerram centros de saúde e escolas o que, só por si, contribui para a desertificação humana do interior. Sem pessoas, a floresta fica abandonada, à mercê da mais ligeira ignição…
Daqui por seis ou oito semanas, muitos portugueses sentirão alívio, quando surgirem as primeiras chuvas, altura em que se extinguirão definitivamente os incêndios… deste Verão. E, até ao próximo, seja o que Deus quiser.
Como se Deus quisesse a nossa desgraça.
José Batista d’Ascenção
Adenda: Outro texto do autor, bastante anterior a este, sobre o mesmo assunto pode ser encontrado aqui.
Se as temperaturas são altas e a humidade é baixa, semanas sucessivas, e se a floresta (que, entre nós é essencialmente constituída por monocultura extensiva de eucalipto, como, em tempos, já o foi de pinheiro, conquanto nessa altura se cuidasse dos pinhais) não está ordenada nem é limpa e, além do mais, sendo o eucalipto e o pinheiro altamente combustíveis, torna-se uma espécie de “paiol” pronto a deflagrar em cada Estio. Criminosos piromaníacos e madeireiros oportunistas também os há, mas os verdadeiros criminosos somos nós mesmos, os cidadãos portugueses que não praticam e exigem a limpeza, a gestão e conservação das florestas. A nossa exigência devia alargar-se à não (re)eleição de políticos incompetentes e irresponsáveis, que vão destruindo o (nosso) presente e hipotecando o futuro das nossas crianças.
As políticas em Portugal deviam passar por cortar o mato, pelo menos em certas zonas, desbastar as árvores em crescimento e remover os detritos que, no mínimo, serviriam como adubo vegetal e lenha ou equivalente para aquecimento no Inverno. Este tipo de prevenção talvez ficasse mais barato do que o que se gasta anualmente (e em anos repetidos…) no combate aos incêndios, em aviões, por exemplo, além de poder criar algum emprego.
Certo que em zonas do interior, despovoadas e envelhecidas, o mato cresce, cresce e envolve perigosamente estradas e habitações. Mas não poderiam os senhores autarcas investir, praticar e exigir mais em limpeza das florestas do que em multiplicar rotundas? O facto de o país carecer, nessas zonas, de braços jovens e adultos capazes de trabalhar, revela também o carácter errado de políticas sociais que encerram centros de saúde e escolas o que, só por si, contribui para a desertificação humana do interior. Sem pessoas, a floresta fica abandonada, à mercê da mais ligeira ignição…
Daqui por seis ou oito semanas, muitos portugueses sentirão alívio, quando surgirem as primeiras chuvas, altura em que se extinguirão definitivamente os incêndios… deste Verão. E, até ao próximo, seja o que Deus quiser.
Como se Deus quisesse a nossa desgraça.
José Batista d’Ascenção
Adenda: Outro texto do autor, bastante anterior a este, sobre o mesmo assunto pode ser encontrado aqui.
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