sábado, 1 de outubro de 2016

As universidades portuguesas não produzem prémios Nobel, (re)produzem praxes

É de aplaudir a frontalidade e veemência com que Manuel Heitor, ministro da ciência, tecnologia e ensino superior, se tem pronunciado contra o barbarismo dos “rituais” dos alunos do ensino superior, contrastando com o que, durante muito tempo, foi a tradicional impotência complacente dos ministérios da pasta (com a excepção feliz de Mariano Gago) e dos responsáveis pelas universidades, personificados nos (seus) reitores.
A mais vetusta universidade do país, uma das mais antigas da Europa e do mundo, terá sido o pólo “inspirador” de onde, por arremedo e degenerescência, irradiaram procedimentos chocantes que se multiplicaram por todo o país, no que deviam ser dignas instituições do ensino superior capazes de formar científica e eticamente os mais dotados dos nossos jovens. Casos houve em que as acções incontidas de estudantes (?) irresponsáveis terminaram em homicídios, relativamente aos quais a justiça, até à data, não encontrou culpados.
Afirmam algumas vozes que são sinais dos tempos. Ao paradigma em que os pais mandavam nas crianças sucedeu a “regra” actual em que os meninos mandam nos pais, primeiro, e nos professores do ensino pré-escolar, básico e secundário, à medida que vão crescendo. E, não poucas vezes, exercem o seu domínio chegando a vias de facto, de que as vítimas preferem guardar “segredo”, atitude conforme com a desatenta compostura de (desacreditadas) hierarquias formais. Curiosamente, os jovens assim “educados” chegam ao que seria a idade adulta, por volta dos 18 anos, e submetem-se voluntariamente aos insultos e comportamentos mais atrozes de meros colegas, como se precisassem tardiamente de ser moldados autoritária e violentamente em estádio (estágio?) necessário para obterem graduação na condição de algozes.
Chamam-lhe integração. E é. Muito eficaz, de resto, como a realidade comprova. Tão bem integradas são estas pessoas que vão mais tarde ocupar lugares de responsabilidade e de chefia no país, o mesmo país de onde os que podem (compreensivelmente) se escapam.
Que relação terá tudo isto com a mentalidade que nos caracteriza e com o estado a que chegámos?

José Batista d’Ascenção

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