A roda dos alimentos (fonte da imagem: aqui) |
Contrariando as possibilidades, os portugueses alimentam-se mal, sobretudo por excesso, com consequências directas na saúde e na qualidade de vida, no rendimento no trabalho, nas despesas pessoais e nos gastos avultados do sistema nacional de saúde. Pode-se dizer que exageramos em número e variedade de excessos, entre os quais se contam:
- o excesso de sal, que influencia a excreção (com retenção) de água no organismo (porque a função renal é afectada), de que resulta sobrecarga do aparelho circulatório e hipertensão;
- o excesso de açúcar, factor de obesidade e diabetes (de tipo II) e incremento de doenças cardiovasculares, de cáries dentárias, etc. Muitas pessoas (talvez mais as senhoras…) ingerem compulsivamente doces e chocolates, e muitas crianças iniciam-se (ou são iniciadas, no meio familiar…) no mesmo vício, sendo que, crianças e jovens, associam-lhe ainda, vezes demasiadas, altos consumos de bebidas refrigerantes, também elas riquíssimas em açúcar. O que significa que não (nos) basta o mal do presente, fomentamos também aquelas doenças nos adultos de amanhã…;
- o excesso de gorduras, que contribui igualmente para a obesidade e doenças do coração e da circulação. Mas as gorduras não são todas iguais: as menos saudáveis são as saturadas, quer as provenientes dos alimentos (carnes, leite e queijo gordos, salsicharia e charcutaria…) quer as que resultam de fritadas sucessivas ou sobreaquecimento de gorduras saudáveis (quimicamente insaturadas). As gorduras saudáveis podem provir de peixes como a sardinha ou o salmão, do azeite extra-virgem ou do óleo de soja ou de frutos como nozes ou avelãs. As gorduras saturadas incrementam o (mau) colesterol circulante e estão na origem de depósitos nas artérias responsáveis por doenças como aterosclerose, AVC e enfartes. Quando as gorduras comuns (triglicerídeos) são aquecidas a alta temperatura, durante as frituras, um seu componente (o glicerol) altera-se e forma-se acroleína, substância produzida em pequena quantidade, mas tóxica e potencialmente cancerígena;
- o excesso de proteínas, que, provindo fundamentalmente da carne, a qual contém outros nutrientes, como as gorduras, se associa às doenças vasculares e obesidade, mas está especificamente na origem de problemas metabólicos de resíduos azotados, como a «gota» (algumas especificações sobre o assunto, escrevi-as aqui). Um regime mais vegetariano (herbívoro, se usarmos o conceito ecológico), de acordo com a roda dos alimentos, traria não só mais saúde, como poupança económica para as famílias e era ambientalmente mais sustentável;
- o excesso de aditivos químicos como conservantes e/ou corantes, alguns deles propensos a desencadear alergias e podendo outros ser cancerígenos.
- e o consumo excessivo de álcool, a droga mais consumida no país (talvez mais pelos homens…), porque «bem aceite» social e legalmente, e que provoca incapacidade progressiva da saúde física e mental dos indivíduos dependentes, até à degradação total, causando também profundas disfunções familiares e sociais.
Temos muito a fazer, os serviços de prevenção primária e as escolas. Há trinta e cinco anos, o programa de Biologia do 9º Ano de Escolaridade dedicava várias horas à alimentação racional. De então para cá regredimos. E no interior das escolas, as máquinas de venda de água, contida em plástico, de sumos e de doces, assim como a permissão da instalação de lojas onde se vendem esses produtos à porta dos estabelecimentos de ensino não ajudam nada.
E não tinha que ser assim.
José Batista d’Ascenção
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