Os meus (até para mim) imprevisíveis rabiscos (e que são, realmente, meus) não têm leitores (os raros que lêem o pouco que anoto não são meus leitores, nem eu tenho produção para ter leitores, são pessoas minhas amigas ou amigas da minha liberdade de opinião). O mundo não perde nada por isso, sei-o desde sempre. Então por que rascunho uma ou outra nota e a deixo à mostra? Não sei.
Uma ou outra vez, por condescendência, amigos gabam-me a escrita. Fazem-no porque são meus amigos e são complacentes. Na profissão, alguns, interesseiramente, acharam-me jeitoso para redigir actas. Nunca os censurei, mas opus-me, quanto pude. Outros preferiam que não fosse secretário porque entendiam que a redacção não devia ser tão próxima do real, de que pretendiam relatos mais eufemísticos, por assim dizer.
Para mim, escrever bem exige três condições:
i) ter talento e perspicácia para abordar assuntos que despertem interesse;
ii) escrever com elegância e clareza, fazendo uso das regras necessárias;
iii) ter leitores que entendam e tirem algum gosto ou benefício da leitura.
Se assim não for não há boa escrita. E qualquer tipo de escrita que não seja lida não serve para nada – não tem possibilidade de ser boa.
Fica a confissão do que humildemente penso, por querer que assim seja e apenas isso. O facto não justifica a impertinência de expor os alinhavos das minhas parcas e humildes notas aos olhos de terceiros, mas, em si, é quanto me basta.
José Batista d’Ascenção