Emigrantes de culturas “opostas” repelem-se, e da mesma cultura repelem-se também, ou assim (me) parece.
Ultima-se a contagem dos votos dos emigrantes portugueses em países estrangeiros, pelo «círculo» da Europa e pelo «círculo» de fora da Europa. As preferências dos eleitores são pelo partido que se opõe ferozmente à imigração para o nosso país.
Há em mim dificuldade(s) de compreensão. Penso em tantos emigrantes portugueses, alguns da minha família, na miséria em que viviam e nos sacrifícios que passaram nos países que os acolheram. E lembro-me de quando Paris era a segunda cidade com mais portugueses.
À partida, pensava eu que toda a sua experiência os abriria à diversidade de culturas e lhes alargaria os motivos de solidariedade e de compaixão para todos os que esforçadamente procuram uma vida melhor. Aceito, porém, que os factores são seguramente muitos, razões haverá que não descortino, e que explicam o que, nesta matéria, me deixa perplexo.
No Domingo passado, à mesa do café, um amigo espantava-se com as minhas dificuldades de compreensão e explanava de forma meridiana:
- Se eu fosse emigrante, e estivesse mais ou menos bem, também não quereria que chegassem outros emigrantes que me disputassem o trabalho, o salário, as condições de habitação, de acesso à saúde e outras…
Dei-lhe razão, que remédio. E logo me lembrei da falta que fazem pessoas como o saudoso papa Francisco.
José Batista d’Ascenção