quinta-feira, 3 de maio de 2018

Governos de Portugal ao serviço da EDP?

Acabo de ler o artigo de João Miguel Tavares (JMT) na última página do jornal «Público» e sinto um aperto na alma. Os governos de Portugal parecem estar e ter estado ao serviço da EDP. Escreve JMT:
«O Conselho Geral e de Supervisão da EDP é o lugar onde há mais ex-ministros. (…):
Luís Amado (ministro da Defesa e ministro dos Negócios Estrangeiros de José Sócrates),
Eduardo Catroga (ministro das Finanças de Cavaco Silva),
Celeste Cardona (ministra da Justiça de Durão Barroso e Paulo Portas),
Jorge Braga de Macedo (ministro das Finanças de Cavaco Silva),
Vasco Rocha Vieira (nomeado por Cavaco Silva ministro da República nos Açores e último governador de Macau),
Augusto Mateus (ministro da Economia de António Guterres)
e António Vitorino (ministro da Presidência e ministro da Defesa de António Guterres). Um terço dos 21 membros do Conselho Geral e de Supervisão da EDP são antigos ministros. Porque será?
Álvaro Santos Pereira, ministro da Economia de Pedro Passos Coelho, tem algumas ideias sobre esse assunto. Graças à enorme vantagem de ter chegado a ministro vindo do estrangeiro, e de ter partido para o estrangeiro após ser ministro, Santos Pereira declarou há um ano a este jornal que “o lobby da energia é um dos mais fortes que temos em Portugal”, que as suas rendas “foram protegidas durante demasiado tempo” e que a sua “ligação ao poder político” teve “uma influência nefasta no nosso país”. Isto diz um ex-ministro que teve a EDP sob a sua tutela, e que viu o seu secretário de Estado da Energia — Henrique Gomes — ser corrido do Governo nove meses após tomar posse, por excesso de entusiasmo na tentativa de renegociar as rendas da EDP. A EDP é daquelas empresas que quando a direita está no governo arranja um chairman de direita (Eduardo Catroga, 2012), e quando a esquerda está no governo arranja um chairman de esquerda (Luís Amado, 2018). (…). Desta forma pragmática, a alternância democrática não chega a causar engulhos a uma empresa que consegue dar emprego tanto a ex-ministros de governos PSD, como a ex-ministros de governos PS. O próprio Henrique Gomes explicou que EDP, EDP Renováveis, Galp e REN, “representam, em conjunto, 42 a 43% de todo o PSI20”, e que um poder destes concentrado nas mãos de tão poucas empresas lhes confere uma esmagadora capacidade de pressão sobre os agentes políticos. Infelizmente, nada disto mudou até hoje, e daí que a minha esperança na eficácia de uma comissão de inquérito sobre a EDP seja nula — os partidos não mordem a mão que os alimenta.»
Li, reli, e sinto que o articulista não pode deixar de ter razão. E não se trata só da EDP.
Que «democracia» e que «justiça», as nossas!

José Batista d’Ascenção

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