segunda-feira, 7 de maio de 2018

Para ti, meu rapaz

Foi ontem de manhã: olhei e vi esta rosa no meio de outras prestes a abrir. Pouco hábil como sou capturei-a numa imagem e mostrei-a dali a nada, à volta da mesa, para que todos confirmassem a sua perfeição e beleza: uma rosa vermelha, muito vermelha, como eu gosto. A primeira rosa do quintal, que me fez pensar em ti. Todos confirmaram que é bonita, muito bonita. E, vê lá, até me pouparam à constatação de que é mais bonita ao natural, na roseira, onde ainda cresce com o sol deste Maio, do que na imagem. Ouve, não lhes disse que esta primeira rosa, desta roseira, neste 2018, me fez pensar em ti. Calei-me porque não soube como dizer-lhes. Mas fiquei a pensar que adivinharam, porque o pensamento me tomava e transbordava de mim e dificilmente não era percebido. Sentei-me, comi calado, e tu estavas sempre ali, como a rosa estava na roseira, ainda a crescer, como tu, e tu como aquela rosa, e como a nossa expectativa e a nossa esperança.
Não imaginas, por estes dias, enquanto esperamos, parece que não sais do nosso pensamento. Um dia destes estás aí, já falta pouco e nós sempre à espera, à espera… Mas não penses que é uma espera difícil. Não é, é apenas uma espera diferente de todas as outras, assim uma coisa viva que, crescendo, crescendo, enche o peito, e é gratificante.
Sei que o teu pai não pensa noutra coisa ou, melhor, pensa em muitas, mas tu és a primeira. Soube que tem estudado umas coisas [ele só vai saber que não se aprende a ser pai antes de o ser daqui por alguns anos, quando tu já fores crescidinho. Eu bem me lembro das minhas dúvidas e temores nos meses antes de ele nascer e depois de ter nascido: primeiro porque me punha a pensar que «raio de pai saberia eu ser?» e depois porque me atrapalhava com cada choro que me parecesse de sofrimento, especialmente quando acontecia de noite, mas fui aprendendo, sempre duvidando se estaria a fazer o melhor, e lá foi indo, com a ajuda e o cuidado da mãe dele e tua avó. Anos depois, ela e eu olhávamos para trás e riamo-nos, porque tinha sido fácil – dizíamos então – e o que não o tinha sido havia resultado mais dos nossos temores do que das fragilidades de saúde dele (bebé) e da nossa incompetência de pais]. Pois como te digo, o pai tem-se aplicado a «formar-se» nas «competências» de ser pai (a avó é que me conta…), e isso não lhe faz mal nenhum. A mãe está agora cada vez mais pesada, mas parece comovida e feliz. Digo parece porque não lhe pergunto, estás a ver?... Os médicos dizem que está tudo a correr bem, o que é um descanso. Nascer não é coisa do outro mundo, nem doença nem motivo de susto. Mas preocupa um bocadinho, percebes? Só isso, porque se tudo correr como é normal hás-de nascer saudável, com uns três quilos e tal (estimativa minha, mais que isso nem convinha…) e à volta de meio metro de comprido. De peso e medida é quanto basta a um homem que nasce. Também convém que o faças em choro alto e forte e com as mãos bem capazes de se fecharem quando te tocarmos nas palmas. Depois havemos de mirar-te de todos os ângulos, mimar-te de todas as maneiras e aconchegar-te no peito. Pela minha parte, já prometi a mim mesmo que hei-de esforçar-me para que os meus olhos não me traiam logo que te tenha à vista. E se eu não disser nada é porque não sei ou não sou capaz, mas o meu coração estará tão em festa como os corações de todos nós. Tu o sentirás.
A rosa vermelha, como eu gosto, é inteiramente para ti. De nós todos.
Como vês, só falta chegares, sem pressa, ao nosso abraço aperta(n)do de mansinho, dentro e fora do peito.
Até já.

José Batista d’Ascenção

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