sábado, 18 de maio de 2019

Gestores (de política e negócios), certos comendadores e outros pobres

Educação e Justiça - o que faz falta.
Na sua longa História, Portugal nunca foi um país de riqueza económica distribuída, nem mesmo quando era uma potência naval, nem quando se tornou o centro de um império com uma vastidão gigantesca, atendendo às dimensões do território continental e ao número dos seus habitantes. Não é fácil ao leigo compreender como é que um pequeno rectângulo com pouco mais de um milhão de pessoas deu lugar à «construção» de um país com uma área cem vezes maior, em que disseminou com sucesso a sua língua, como aconteceu com o Brasil. E talvez seja ainda mais difícil perceber como é que, dominando tanto território na América do Sul, nas costas ocidental e oriental da África e na Índia, Portugal nunca fez enriquecer materialmente (nem educacionalmente…) a generalidade dos portugueses nem, muito menos, os povos que subjugou. Consciente das insuficiências e limitações pessoais, deixo à História o que é da História. Adiantaria só que, ao longo de séculos de monarquia e, desde há cerca de cento e dez anos, durante a república, em ditadura ou em liberdade, isolados ou abertos à comunidade internacional, contando apenas com os nossos míseros recursos, no tempo de Salazar, ou gerindo avultadas somas, oriundas da Europa, fomos sempre fracos em desenvolvimento económico e bem-estar social. As razões serão díspares e não cabem em análises curtas. O que importa aqui é que não há (ou eu não vejo) sinais de que os tempos que correm e os que se perspectivam para o futuro próximo destoem, em termos comparativos, e significativos, do que sempre foi. Do que vivi e me lembro e do que estudei, ficou-me sempre a impressão de que o analfabetismo, a ignorância, e a falta de formação são factores que limitam severamente a «produtividade» dos portugueses e, mais do que isso, permitem todo o tipo de manipulação e ludíbrio, que favorece(ra)m a exploração e a corrupção, fosse nos tempos de servidão da ditadura, seja em tempo de democracia formal.
Perante desmandos inqualificáveis, sem acção lesta da Justiça, o povo olha com pasmo e resignação (ou nem sequer olha…) e os protagonistas do poder político, fazendo leis a preceito, e os agentes económico-financeiros e os instalados que delas beneficiam, amanham-se sem constrangimentos, hipotecando a qualidade de vida actual e futura da imensa maioria das pessoas, na maior e mais plácida impunidade.
Quem viu as imagens recentes de um dos muitos financeiros e outros poderosos que prestaram declarações perante uma comissão de deputados não pode ter deixado de se sentir chocado com o desplante com que o interrogado se riu do país, das suas instituições e das suas leis. Chocados também se dizem os políticos hábeis, mas não sabemos se é mais por cálculo eleitoral, em tempos de campanha.
A eurodeputada Ana Gomes, algo dada a palavras e atitudes justiceiras, sugeriu que o governo deite a mão aos bens dos que se tornaram grandes devedores às instituições de crédito salvas com o dinheiro dos contribuintes. É fácil concordar com ela. Só não se aceita que as leis não sejam claras e justas e aplicadas a todos. Não se aceita, mas percebe-se minimamente, porque elas foram feitas, precisamente (ou seja, intencionalmente) para proteger quem protegem.
E não são os pobres.

José Batista d’Ascenção

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