quarta-feira, 15 de maio de 2019

Porque (e para que) transpiramos

Fonte da imagem: aqui.
De comum, quando sentimos calor começamos a transpirar. A pele que reveste o nosso corpo apresenta inúmeras estruturas glandulares – as glândulas sudoríparas – com o poro de exsudação virado para o exterior, por onde é libertada água e certas substâncias nela dissolvidas, quando os mecanismos de refrigeração do corpo são accionados. Portanto, a transpiração (sudorese) é fundamentalmente um dos processos de refrigeração do corpo, que é desencadeado quando a (sua) temperatura tende a aumentar, mantendo-a ou fazendo-a regressar aos valores fisiológicos de cerca de 37ºC (graus centígrados ou Celsius).
A base do processo é fácil de entender: A água absorve grandes quantidades de calor quando aumenta a sua temperatura e quando passa do estado líquido ao estado de vapor. Ora, quando a água libertada pelas glândulas sudoríparas forma as gotas que perlam a superfície quente da pele, este calor é absorvido em grande escala no processo de evaporação, originando um arrefecimento que pode traduzir-se numa sensação de frio em quem, transpirado, se recolheu à sombra e ficou uns minutos a descansar.
Sendo a transpiração um processo fundamental de regulação da temperatura do corpo, qualquer factor ou processo que a impeça reveste-se de enorme perigo. É conhecido o caso do maratonista português, Francisco Lázaro (1888-1912), que, imediatamente antes da maratona olímpica de Estocolmo, em 1912, decidiu besuntar-se com sebo, uma gordura animal, a fim de impedir a transpiração. O risco era enorme, mas, provavelmente, o nosso atleta ignorava-o, desafiando a morte. E ele morreu, no hospital, sem ter chegado à meta, comprovando que a transpiração é um processo fisiológico imprescindível.
Como dito acima, o fluido da transpiração é essencialmente água, contendo sais minerais, como o cloreto de sódio (sal comum que usamos na cozinha). A água e os sais minerais dissolvidos não causam odor perceptível. Em pessoas que desempenham trabalhos físicos esforçados ou pessoas que caminham muito podem ver-se, no Verão, manchas esbranquiçadas na roupa, na zona da «cova do braço», ou nos sapatos, resultantes da acumulação de sal por evaporação da água. Há, porém, um (outro) tipo de glândulas sudoríparas concentradas em certas zonas da pele, como por exemplo as axilas, o couro cabeludo e a zona genital, as quais eliminam resíduos do metabolismo que estão na origem de odores desagradáveis. Em certas pessoas, com características metabólicas particulares, ou em condições de «stress», ou quando se ingerem certos alimentos em abundância, por exemplo alho ou cebola (que possuem compostos ricos em enxofre), esse efeito pode ser aumentado. Como a nossa pele é povoada por milhões de bactérias (a «flora» da pele), algumas delas consomem restos de células mortas e resíduos da transpiração, metabolizam-nos e produzem outras substâncias químicas (outros resíduos) com odor forte e desconfortável – o cheiro a transpiração. Mais invulgarmente, quando a alimentação é pobre em hidratos de carbono (amidos e açúcares) e as células têm que recorrer à degradação de proteínas (após grandes esforços físicos) ou quando se ingerem doses excessivas de carne (com grande riqueza proteica), o excesso de amónia produzido não pode ser transformado no fígado (o que originaria ureia, depurada nos rins) e é eliminado através do suor, que pode então cheirar a «urina».
A transpiração excessiva pode dever-se a factores desconhecidos ou ser causada por diversos estados de doença.
Para camuflar o odor a transpiração usamos «desodorizantes», em cuja composição, entre várias substâncias químicas, figuram álcoois e algum perfume. De resto, o vulgar álcool etílico (etanol) para uso sanitário, bom solvente de compostos aromáticos, pode, pontualmente, ser usado para remover bactérias e os (seus) resíduos odoríferos dos sovacos, esfregando-os com dois ou três mililitros daquele álcool contidos na concha da mão. Para além da eliminação do odor obtém-se uma sensação imediata de frescura e higiene. Contudo esta não é uma solução de rotina dermatologicamente aconselhável, devido aos efeitos de ressecação e possível irritação local da pele por efeito do álcool. Outro componente dos desodorizantes comuns, capaz de produzir um efeito indesejável, é o alumínio. As substâncias que o incluem podem originar a obstrução dos ductos das glândulas sudoríparas, caso em que a água fica retida fazendo aumentar o tamanho glandular, levando, eventualmente, à formação de nódulos que parecem quistos de tamanho centimétrico, nas axilas. Para estes casos há desodorizantes sem álcool, sem alumínio e sem «parabenos» (compostos antibacterianos e antifúngicos), que se vendem em estabelecimentos farmacêuticos e afins, mas a preços mais elevados.

José Batista d’Ascenção

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