segunda-feira, 14 de setembro de 2020

A maldição dos fogos e a esperança que se vai consumindo neles

Imagem obtida aqui.
Soube há pouco o que temia desde a hora do almoço. A aldeia em que fui menino foi envolvida no mar de fogo que lavrou desde Proença, que em horas se propagou aos concelhos vizinhos, como o de Oleiros (era inevitável) e que progride ainda na sua marcha tenebrosa. Em redor da casa onde nasci dizem-me que não sobrou nada e que está tudo negro. Há quinze dias estava lá e foi um deslumbramento e uma paz especiais. Agora estou sem coragem para ir ver a desolação que resta.
Não compreendo as mentes e as mãos que ateiam os incêndios. E desisti de compreender as acções dos políticos sobre a matéria. Sei que aquelas populações estão entregues à sua (má) sorte. E sei igualmente que não merecem tantas e tamanhas desgraças. Na minha tristeza, abraço os que há poucos dias queriam abraçar-me, sem conseguirem reter as lágrimas. Esses e todos os outros que por lá permanecem. Aconchego-os no meu peito, com carinho. 
Amanhã é outro dia.
Recomeçaremos.

José Batista d'Ascenção

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