domingo, 27 de setembro de 2020

Jornalismo da actualidade: que formação exige e que interesses serve?


Imagem obtida através da «Google»: aqui.

Oponho-me àquela infeliz ideia de que “antigamente” é que era bom por oposição à actualidade. Antes pelo contrário: as crianças e jovens de agora têm as potencialidades que os seres humanos sempre tiveram, mas encontram condições como nunca houve de poderem realizar-se e darem contributos válidos à colectividade.

Contudo, no nosso país, muito nos falta para termos uma sociedade justa e solidária. Falha clamorosamente o sistema de justiça e não falha menos o sistema educativo, na sua base e no ensino secundário. O primeiro padece de uma orgânica fechada, hermética e, porventura, endémica, que não mostra celeridade nem justeza, nem inspira confiança aos cidadãos. E o segundo prepara bem a maior parte das crianças sobredotadas e aquelas a quem as famílias dão suporte e acompanhamento adequados, mas deixa na ignorância uma enorme quantidade de meninos, que serão adultos limitados nas suas capacitações, na exigência dos seus direitos e no exercício da cidadania.

O que também funciona mal, em minha opinião, é a comunicação social, concretamente as televisões e os jornais. Da rádio (que oiço sobretudo no carro) tenho melhor impressão. Nas “tevês” o entretenimento é muitas vezes “abaixo de cão”: explora-se o que de pior, mais instintivo e irracional há nas pessoas e impingem-se doses tremendas de publicidade, comummente enganosa. O primeiro canal da televisão pública, que devia contrastar, pela positiva, com os canais privados, não foge suficientemente ao figurino, atolando até os bons profissionais em amálgamas deformativas de conteúdos sem qualidade. Nos telejornais, a predominância de assuntos de “faca e alguidar”, desastres e violência ou doenças, guerrilhas partidárias ou “desportivas”, emitidos em mau discurso, gramatical e fonético, por vezes estridente, em alinhamentos artificiais e tendenciosos, enjoa e devia causar repulsa, se o auditório fosse mais exigente. Situação que considero deplorável é a de supostos “espaços” noticiosos em que o jornalista degrada o seu papel perante um político “residente”, que faz propaganda pessoal ou defende interesses que lhe convêm. Como se fosse natural, normal e desejável. E como se os espectadores fossem estúpidos.

Na imprensa escrita, jornalistas de tomo, de pensamento escorreito e escrita impecável, constituem referências a que não se dá o devido valor. Entre vivos e falecidos, nomes como os de Joaquim Letria, Vasco Pulido Valente, Teresa de Sousa, Vicente Jorge Silva, São José Almeida e muitíssimos outros, são exemplos da arte de bem escrever, informar e formar. Por oposição, a superficialidade, a parcialidade e os atropelos nas ideias e no discurso (gramatical e ortográfico), agora abundantes, chegam a ser deprimentes, quando, por obrigação de ofício, a isenção, o rigor, a clareza e a elegância discursiva deviam ser a pedra de toque dos artigos escritos.

A agravar a “informação” escrita (e oral…) há ainda o desprezível «novo acordo ortográfico», deturpador efectivo da nossa bela língua, merecedor do caixote do lixo ou, pelo menos, a carecer de profunda revisão.

Não obstante, deposito grandes esperanças naquela fracção de crianças e jovens altamente bem preparados e capazes de colmatar (progressivamente) as atávicas falhas de formação e de exigência que nos caracterizam como povo.

Por não ser pequena a tarefa que lhes cabe, e a que não podem fugir, muito sucesso lhes desejo.

José Batista d’Ascenção

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