segunda-feira, 21 de setembro de 2020

E se exigíssemos uma organização social em que os nossos idosos vivessem connosco?

Imagem obtida via «google»: aqui.

O que se passa em Portugal com as pessoas mais velhas é, em muitíssimos casos, uma indignidade. O facto de não ser só entre nós é apenas agravante.

E não me refiro especificamente ao que se passa com as infecções generalizadas em muitos lares, legais e ilegais, pelo coronavírus mais recente. O problema vem de há muito e tende a agravar-se porque:

- a esperança média de vida aumentou significativamente desde há cinquenta anos;

- o mundo do trabalho e das relações sociais rejeita ou segrega os (mais) velhos;

- as habitações não são projectadas tendo em conta as mazelas da velhice, nem sequer as limitações de pessoas com problemas de mobilidade;

- tornámos “educação” e “cidadania” numa espécie de variações de publicidade exibicionista e espalhafatosa que inculca o conceito ilusório de juventude perene;

- o crescimento da economia faz-se para aumentar o consumismo, em detrimento dos princípios da qualidade de vida, associada à moderação do desperdício e à preservação do meio natural. Na realidade, desde há várias décadas, o número de velhos e de reformados aumentou, em número de efectivos e em proporção à juventude, mas como que deixou de haver lugar para eles no seio das famílias e da sociedade, salvo na medida em que as suas reformas ou pensões alimentam negócios ou suprem as despesas de filhos e netos.

Os idosos deviam permanecer nas suas casas enquanto fosse possível, organizando-se serviços comunitários que, na ausência ou impedimento dos familiares, lhes prestassem cuidados e vigilância no domicílio, como já se pratica em alguns lugares do meio rural.

Em vilas e urbes, as políticas de habitação e urbanismo deviam promover a construção de casas de um só piso e arruamentos com um mínimo de obstáculos e desníveis.

E a economia devia estar ao serviço do bem-estar das pessoas e sujeita a esse bem-estar, assim como à poupança de recursos e à minimização da produção de tralha inútil ou poluente.

Felizmente, já fomos capazes de sensibilizar os cidadãos, particularmente os mais jovens, para o respeito pelos animais, apesar dos exageros de almas muito preocupadas com a alimentação de pombos, gatos ou cães na via pública, por exemplo. Precisamos de estender os mesmos desvelos às plantas e ao património natural ou edificado. E também precisamos urgentemente de dar atenção e cuidado àqueles que nos deram o ser e a boa ou menos boa educação que temos.

Por decência, antes de tudo, e preventivamente, em nosso benefício.   

José Batista d’Ascenção

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