quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Ácidos gordos ómega 3 – o que são e a importância que têm

Figura 1. Exemplos de ácidos gordos: saturado e (mono)insaturado.
Imagem obtida aqui.
Os ácidos gordos das gorduras alimentares são, na sua maioria, constituídos por (moléculas formadas por) cadeias (mais ou menos longas) de átomos de carbono (C) a que se ligam átomos de hidrogénio (H), presas a uma “cabeça” constituída por um grupo químico designado grupo carboxilo (assinalado a azul na figura 1). O grupo carboxilo (COOH) é formado por um átomo de carbono ligado a dois de oxigénio (O), por uma ligação dupla a um deles e por uma ligação simples ao outro, o qual se liga também a um átomo de hidrogénio. Os tracinhos significam, portanto, ligações químicas entre os átomos. Um duplo tracinho refere-se a uma ligação dupla. Na cadeia hidrocarbonada, cada ligação dupla chama-se insaturação. Devido às suas afinidades químicas, cada átomo de carbono forma quatro ligações estáveis com outros átomos. Se não houver ligações duplas na cadeia hidrocarbonada, o ácido gordo diz-se saturado. Se as possuir diz-se insaturado. Um ácido gordo pode ser monoinsaturado ou polinsaturado consoante tem uma ou mais insaturações.

Figura 2: Ácidos gordos ómega 3 e ómega 6.
Fonte da imagem: aqui.
Quando existe uma insaturação no terceiro carbono a contar da extremidade da cadeia hidrocarbonada (oposta à “cabeça”), chamamos ómega 3 ao ácido gordo que a possui. Se houver uma insaturação no sexto carbono, contado do mesmo modo, o ácido gordo diz-se ómega 6 (Figura 2). Estes ácidos gordos são obtidos por via alimentar e são essenciais ao nosso organismo.
Os ácidos gordos insaturados são mais saudáveis do que os saturados porque, entre outros efeitos, têm menos tendência a aderir às paredes das artérias, depositando-se nelas. Os ácidos gordos polinsaturados ómega 3 parece terem um papel importante na saúde dos vasos sanguíneos e na prevenção de outras doenças. E a proporção adequada e equilibrada entre ómega 3 e ómega 6 parece favorece essa acção [«devemos comer menos alimentos ricos em ómega 6 e mais ricos em ómega 3» (1)].
As gorduras alimentares mais comuns: azeite, óleos vegetais, manteiga, a gordura animal (do peixe e da carne), do leite ou de frutos como as nozes ou as amêndoas, são constituídas por triglicerídeos, lípidos mais complexos do que os ácidos gordos. Cada triglicerídeo é formado por três ácidos gordos ligados a uma outra substância chamada glicerol. Digeridos no intestino, os triglicerídeos fornecem ácidos gordos (iguais ou diferentes entre si, saturados ou insaturados) usados no metabolismo das células.
Consequência da abundância alimentar e de mudanças no estilo de vida, designadamente o sedentarismo, nas populações das sociedades ocidentais, cuja esperança média de vida aumentou muito, por acção das vacinas e pelo uso de antibióticos, surgiram e multiplicaram-se as doenças cardiovasculares e certas formas de cancro (em tempos antigos, a maioria das pessoas morriam mais cedo, sobretudo por infecções derivadas de problemas sanitários e de higiene, agravados por factores de malnutrição).
Ora, constatou-se que os povos que vivem próximo do pólo Norte (como os esquimós) e populações de pescadores dos países nórdicos e de certas ilhas, com alimentação muito rica em gordura de animais aquáticos, designadamente peixes gordos de águas frias (salmão, truta, atum), quase não apresentam doenças cardiovasculares. Daí a investigação sobre as gorduras desses alimentos, focada nos ómega 3 e nos ómega 6. O papel benfazejo dos ácidos gordos polinsaturados, particularmente dos ómega 3, parece inquestionável, mas a saúde, que depende directamente da alimentação, depende igualmente de outros factores, como a prática de exercício físico regular, de hábitos e comportamentos (casos do tabagismo e do consumo de álcool ou drogas), das condições ambientais (por exemplo a poluição) e das profissões (“stress”, lesões diversas, químicos tóxicos, radiação, silicose dos mineiros, etc.).
De qualquer modo, “somos aquilo que comemos”. E comemos mal, não apenas (nem principalmente) por carência (nos países desenvolvidos o problema é o excesso), mas por falta de “educação” e por sujeição à publicidade das cadeias de produção e de comércio de alimentos processados, de doces e de refrigerantes, agravada pelas limitações financeiras de muitas famílias que vivem com rendimentos ou pensões de valor muito baixo.

(1) Nota: Informação mais específica, vasta e rigorosa sobre a citação feita e sobre todo o conteúdo do texto pode ser obtida no livro «Alimentação, Mitos e Factos», de Isabel do Carmo. Editora «Oficina do Livro». 1ª Edição, 2020. (páginas 187-201). 

José Batista d’Ascenção

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