sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Ricos e pobres e o meu pobre país

Fonte da imagem: aqui.
Mais do que as religiões, a cor da pele, a etnia ou o género, o que mais limita negativamente as pessoas da generalidade das sociedades é a condição de (ser) pobre, sobretudo se associada à ignorância. O combate político fundamental da humanidade, antes de todos os outros, devia ser o de assegurar a todas as pessoas os mínimos de decência que tornam a vida digna: alimentação, higiene, habitação, saúde, educação e possibilidade de trabalho. O resto viria por acréscimo. A barreira a quebrar ou a esbater grandemente devia ser, portanto, a que existe entre os pobres e os ricos. Uma tal luta não deve visar a eliminação da riqueza dos ricos, salvo se conseguida à custa do aumento do número de pobres e/ou do seu “grau” de pobreza. Focar os objectivos políticos e sociais na diminuição progressiva da pobreza e do número de pobres é teoricamente possível: porém, é muito difícil de conseguir, devido principalmente às características dos próprios seres humanos (pobres e ricos), como a História demonstra.
Portugal, um velho país, embora desenvolvido, continua a ser um país pobre, muito dependente das conjunturas sócio-financeiras por causa do seu enorme endividamento. Políticos e governantes têm tido vistas curtas e grande fraqueza e incapacidade perante a corrupção, e pouca competência no desempenho da gestão económica. E o povo, no seu atavismo, derivado em grande medida de limitações de conhecimento, que tolhem a capacidade de exigência e de responsabilização, chega mesmo a reeleger alguns dos poucos responsáveis políticos que os tribunais condenam…
Em minha (humilde) opinião há dois “cancros” no funcionamento da sociedade política portuguesa: o quadro legislativo e a aplicação da justiça e o sistema educativo. A justiça é complacente, adormece e não condena as falcatruas dos poderosos e, muito especialmente, os “crimes legais” dos gananciosos da banca, tão insaciáveis quanto impunes. No que respeita à educação, por mais que nos queiramos iludir com o que alguns chamam “a geração mais bem preparada de sempre”, é atroz a impreparação cívica de muitos cidadãos em matéria de princípios éticos, participação democrática e racionalidade de procedimentos, com origem (ou reforço) na deficiente formação humanística e científica, que os certificados escolares não conseguem camuflar.
Sem justiça e sem educação não há sociedade justa e livre. E quem mais sofre são os (mais) pobres. Em sociedades com tais desequilíbrios de distribuição da riqueza, só os da minoria bafejada pela sorte podem congratular-se com a situação que lhes cabe. Mas não com tranquilidade infinita, porquanto os muitos que nada têm, mas vêem e desejam, podem “optar” pela obtenção violenta daquilo a que se julgam com direito…
Ora, esse mal pode e deve ser prevenido socialmente, de forma moralmente justa.

José Batista d’Ascenção

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