quarta-feira, 25 de agosto de 2021

Até ao próximo incêndio

São eucaliptos. Crescem bastos desde o último fogo, vai fazer um ano. Ninguém os semeou. Não é preciso. Há courelas que parecem (enormes) canteiros, sem que ninguém tenha feito nada para isso. Ou melhor: alguém fez, sim: quem, bem-intencionado e calculista, plantou os que, ao arderem, libertaram as sementes, em número infinito. Da cepa desses crescem vigorosos rebentos, alguns já com 3m ou mais de altura - árvore fabulosa: quase se vê crescer de dia para dia. Mais rápidos que (todas) as outras plantas, ocupam os espaços e roubam a luz, em proveito próprio. E crescem, crescem. Ironicamente, ou talvez não, sendo um mal, as pessoas vêem-nos como a (única…) fonte possível de rendimento, daqui por dez anos. Se não arderem entretanto, o que não é pouco provável. Neste Portugal interior, da Beira Baixa, antiga zona do pinhal, com muito poucas pessoas, não sei se não se caminha para um “deserto” de eucaliptos. Em sítios (mais) baixos e na margem das estradas, também as acácias proliferam… Dura lei da vida: é uma luta entre plantas, em que vencem as mais “fortes”.

Morta a agricultura (de subsistência), abandonadas as (pequenas) vinhas de produção própria e algumas oliveiras galegas, de bom azeite, a beleza da paisagem, doravante ainda mais monopolizada pelo eucalipto, nada pode contra a falta de ocupações remuneradas em qualquer tipo de indústria, a ausência de centros de saúde e de farmácias, o encerramento dos CTT e de agências do banco público, etc. Como se poderão fixar pessoas permanentemente nestas paragens?

Não sei. Não sei responder.

Mas gosto de vir aqui, ao sítio onde nasci e fui menino, até ao fim da escola primária.

José Batista d’Ascenção

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