terça-feira, 3 de julho de 2018

O mundo fora de si e tantos de nós fora do mundo

Imagem obtida aqui
Pessoas como Trump, Kim Jung-un, Putin, Erdogan (presidente da Turquia), Viktor Orban (primeiro-ministro da Hungria), Sebastian Kurz (chanceler da Áustria, ou Matteo Salvini (vice primeiro-ministro de Itália), entre outros, são líderes de países diversos, entre potências económicas e militares (EUA, Rússia), cujas sociedades (tirando os norte-coreanos que não sabemos se podem pensar livremente, sequer…) parecem atraídas por um vórtice de irracionalidade capaz de fazer desembocar o mundo numa guerra global. Num contexto assim, em que as redes sociais ganham uma importância desmedida, por estimularem o medo e a agressividade correspondente, eventualmente transformados em correntes de ódio, líderes ponderados como o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, o senhor Macron e a senhora Merckel (esqueçamos o tempo em deu corpo a vozes que atribuíam aos europeus do Sul certa tendência para o excesso de férias e poucas horas de trabalho, vulgo «preguiça»), ou homens de boa vontade, como o papa Francisco, remam ineficazmente contra o fluxo horrível que parece arrastar a humanidade para o abismo.
Os movimentos de migrantes, o mar de horrores que lhes dá origem, as suas consequências trágicas - deixando milhares de cadáveres humanos à mercê dos necrófagos do deserto africano ou afundando-os no escuro do mar Mediterrâneo - e as reacções populares que desencadeiam, causam dor, perplexidade e preocupação crescentes, especialmente porque não se vislumbram quaisquer vias efectivas que as solucionem na origem ou em qualquer momento/lugar, a jusante.
Mesmo em Portugal, um país moderado de emigrantes, de ontem e de hoje, sentimentos explosivos de cariz racista podem acontecer à luz do dia, em presença de testemunhas amedrontadas ou indiferentes, num tempo em que a própria protecção aos animais começa a ficar, e bem, estabelecida nas leis. Porém, não há leis que obriguem o coração das pessoas, e por isso o ser humano é capaz da maior bestialidade (comportamento de besta) com o seu semelhante, com os outros seres vivos e com o ambiente.
Este caldo de cultura pode alastrar continuamente e agravar-se, mesmo em Portugal, que gostamos de classificar como «país de brandos costumes», esquecendo a violência doméstica, o modo como nos meios mais afastados da burocracia da «justiça» esta se praticava pelas próprias mãos, a «escravização» dos mais pobres e desprotegidos, da nossa ou de outras culturas, o tratamento dado aos animais domésticos e até a falta de respeito pelo ambiente, desde os incêndios à decepação radical de árvores travestida de «poda», e ignorando, de forma difusa, uma certa violência latente que a miséria e a ignorância potenci(av)am, ainda que subterraneamente. Claro que o populismo político estreme que vai por essa Europa além não tem expressão entre nós, felizmente, mas não sei se será apenas porque «sabemos» que os migrantes, que não os de países de expressão portuguesa, não querem vir para Portugal, caso contrário, facilmente nos esqueceríamos de que, também nós, pela pobreza do nosso país andámos e andamos por esse mundo fora procurando o que não encontramos ou não conseguimos obter na nossa terra. Creio poder afirmá-lo, porquanto cada português que se espalhou pelo mundo não o fez normalmente pelo gosto de viajar, até porque onde cada qual achou guarida por ali se quedou, em padrão migratório que só nos últimos anos se tem alterado com os jovens qualificados que o próprio governo convidou a sair do país.
Em suma: o estímulo, se não o contágio, do que é mau pode tornar-se exponencial se não for atempadamente prevenido, mesmo em países como o nosso. Veja-se o que tem acontecido à volta do desporto, ou em bairros desfavorecidos ou pontualmente em grandes ajuntamentos festivos como foi o S. João no Porto, em que uma menina negra foi violentamente espancada por um fiscal de transportes com farda de… segurança!
Este é o mundo que anula as pessoas de bem, provavelmente porque eu e os da minha geração – sobretudo na condição de pais e de professores - falhámos muito e de muitos modos, e que é um mundo que eu não quero para os meus filhos e netos. Não que o mundo tenha sido melhor do que é agora em qualquer tempo passado. Só que agora pode ser ainda mais perigoso. Animemo-nos, portanto - os que de algum modo o podem fazer – para o deixar o melhor possível. Não nos poupemos a esse esforço. Pelo menos isso. 

José Batista d'Ascenção

Sem comentários :

Enviar um comentário