quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Museu do Quartzo – Barral, Ponte da Barca

Resultado da fé e de uma incomum sensibilidade para o que é belo e natural, o cónego Avelino de Jesus Costa (também professor catedrático de Coimbra) [1908-2000] pode ter suposto que a regularidade geométrica da sílica (SiO2) crescida sob a forma de quartzo, e muito bem explicada pelas ciências geológicas, se enquadra na harmonia do mundo físico, como parte da criação realizada pelo Supremo, o qual se pode tornar próximo e sensível à devoção dos crentes, de vários modos, como seja a intercessão de Nossa Senhora da Paz.
A capelinha do santuário tem incrustados nas paredes exteriores vários cristais de quartzo de dimensões multidecimétricas, salientes da superfície, e, no altar, sobre a imagem da Santa, um outro, está disposto do mesmo modo, podendo ser encarado como suplementar coroa divina muito original.
Na cripta, ao lado, a base do altar, é (também) uma peça única de cristais de quartzo, de palmo ou maiores, com os seus belos prismas (de seis lados) encimados por pirâmides (igualmente de seis lados), com o peso de cerca de três toneladas.
No espaço envolvente, sob árvores frondosas, várias pedras irregulares com (muitas) dezenas de quilos cada, exibem a sua cor rósea característica (o quartzo pode apresentar várias cores, em consequência de diferentes «impurezas» da sílica, razão por que se diz um mineral alocromático).
À entrada do recinto, as esculturas do Anjo da Paz e da Pomba da Paz, elevam-se em pedestais revestidos de cristais de quartzo, grande parte deles com vários decímetros.
Em edifício lateral, a um átrio com um balcão de informação, sobretudo de cariz religioso, segue-se uma sala sobre o comprido com armários de dupla face, ao longo do centro, repletos de literatura religiosa, medalhas, diplomas e peças diversas de arte sacra. Nas paredes, a toda a volta, quadros (à data, vários deles correspondentes a uma colecção em exposição temporária), também eles religiosos. Desta sala passa-se a outra, mais pequena (talvez 4x3 metros) bem fornecida de belos exemplares de quartzo, sobretudo leitoso e fumado. Cada exemplar tem um número manuscrito a que deve corresponder algum tipo de inventário, que não está disponível para consulta ou aquisição. Em dois expositores desta sala exibe-se um conjunto de minerais diversos, corais, dois ou três fósseis (entre os quais duas pequenas trilobites e um pedaço de «madeira petrificada»), uma amostra de lava trazida do México, etc., provenientes das mais diferentes origens (Brasil, África, Arábia…) por emigrantes que os ofereceram ao museu. Estas amostras repousam sobre papelinhos manuscritos que indicam de onde vieram e, nalguns casos, também o nome de quem as ofereceu.
No armário central da sala do museu especialmente dedicada ao quartzo, numa informação impressa lê-se: «Todos os Cristais de Quartzo em exposição foram extraídos de uma pedreira existente nesta freguesia de Vila Chã S. João Baptista na década de 60 [do século XX]. Esta é a maior coleção de Cristais de Quartzo do País, destacando-se pela quantidade, o Quartzo Fumado, o Quartzo Rosa e o Quartzo Hialino.»
O acervo merece ser visitado. E para que as visitas sejam cada vez mais, a conservação e organização do espólio merece a (ou carece da) inspiração e dedicação de algum continuador científico da acção do cónego Avelino de Jesus Costa.
Gostámos de ver.

José Batista d’Ascenção

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