quarta-feira, 8 de agosto de 2018

A «protecção civil», o «instituto de conservação da natureza e das florestas» e o mais que seja.

Imagem do jornal «Público»
As imediações de Monchique ardem calamitosa e «interminavelmente», mesmo tendo as temperaturas baixado, desde domingo, para valores não muito elevados para a época. Claro que o clima de Portugal é, na maior parte do território, de tipo mediterrânico e, por isso, os incêndios florestais tendem a ser algo com que temos que lidar sobretudo nos meses de Julho, Agosto e Setembro. Porém, a realidade podia e devia não ser tão má, para as gentes desprotegidas do interior, para a economia e para o ambiente natural, se nos dedicássemos a fazer tudo o que a prevenção aconselha, assim como não devia ser tão artificial o aparato e a encenação (e a hipocrisia) das instituições relacionadas, das autarquias e do governo. Da eficácia de quaisquer deles estamos conversados. Quanto à confiança nas suas acções, admito que nem eles mesmo acreditem, embora disfarcem razoavelmente, especialmente quando aparecem nas televisões e se pronunciam como se tivessem decorado (às vezes mal) um prontuário.
Não sei quando é que metemos na cabeça que temos de tratar da floresta para os nossos netos e bisnetos. No passado, quando não havia prodígios tecnológicos, já se fez isso. Nos tempos actuais não pode ser impossível fazê-lo. E isto não é um problema apenas português. A Europa, designadamente, que tanto dinheiro nos fez chegar para estádios de futebol (pelo de Braga, a autarquia paga, actualmente, cerca de 900 € por hora!, e aquela infraestrutura não serve para mais nada senão para se fazer um jogo de futebol quinzenalmente. Parece até que o município já estará disposto a vendê-lo, ao que eu sugiro que o entregue dado a quem assuma as despesas, porque estou farto de um país roto a fazer de rico) e autoestradas e empresas fictícias, bem merecia líderes que olhassem para o ambiente e, especialmente, para os espaços florestais. Há muitas espécies resistentes e resilientes ao fogo, embora não se prestem à voracidade das empresas exploradoras do eucalipto. Acontece que dependemos estritamente de biodiversidade, de oxigénio e de clima suportável. E sem espaços florestais adequadamente geridos e respeitados não o conseguimos.
A mentalidade reinante é, porém, um problema, porque nem sequer vemos oficialmente a floresta como mais um componente da natureza. Daí aquele nome estapafúrdio de «instituto da conservação da natureza e das florestas». Aqueles senhores devem confundir a monocultura do eucalipto, por exemplo, com o conceito de floresta (onde há árvores, arbustos e vegetação rasteira e onde habitam e circulam animais). Dá-lhes jeito assim porque isso lhes proporciona cargos. E os cargos, essencialmente burocráticos, quase de fachada, dão-lhes proveito. E depois, para além deles há muita gente que faz negócios à custa da alteração/destruição do coberto vegetal. E muitas pessoas, a maioria bem intencionadas, colaboram activa ou passivamente nesses procedimentos exploratórios/predatórios e respectivos negócios, enquanto outras fazem esforços desesperados a combater a praga dos incêndios, de que resultam severas consequências. De modo (mais) claro: há uma indústria do fogo e poderosos interesses correlativos. A que se associa irresponsabilidade, ignorância e demência. E impunidade: política, social e judicial.
Mas os fogos de grande dimensão, tirando condições específicas de certas alturas (temperaturas muito altas, baixa humidade, vento forte…) não são uma inevitabilidade.
Porque é que inventamos tanto, e tão mal, se o pagamos tão caro?

José Batista d’Ascenção

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